AUTOR: JEAN JENET
ENCENAÇÃO: PAULA PEDREGAL
ESTREIA: 23 DE OUTUBRO DE 2015

SINOPSE

Escrita por Jean Genet em 1947, a peça, As Criadas, apresenta a história de duas irmãs, Clara e Solange, que trabalham como criadas numa casa. Conscientes da sua insignificância, levando uma vida de submissão, confinadas ao apartamento de uma Senhora rica, bela e bondosa que as mantém isoladas do mundo e mergulhadas na mais profunda solidão, elas sonham libertar-se da sua condição de servidão e para tal decidem matar a Patroa. Na ausência da Senhora, todas as noites se apoderam do quarto da própria, bem como das roupas e jóias, e aí ensaiam a sua morte numa representação na qual uma faz o papel de Senhora e a outra de criada. Neste jogo de faz de conta, no qual elas elegem a Senhora como objecto do seu ódio que também é amor, da sua admiração que também é inveja, descarregam todo o seu rancor e raiva mas nunca conseguem concluir a cena. Tal como na vida real. No entanto, perante a iminência dos seus planos serem descobertos, acabarão por dar um desfecho inesperado às suas vidas.

SOBRE O ESPECTÁCULO

Je suis Les Bonnes
Nous sommes Les Bonnes

Os textos intemporais vivem de diferentes formas em cada época, e cada época, cada projeto, apropria-se desses textos da forma que lhe é mais conveniente perante as circunstâncias, os contextos políticos, económicos e culturais em que estão inseridos.

Ou seja, apropriamo-nos deste texto com a mesma urgência com que um condenado lança o seu último apelo.

Porque é que, súbita e inesperadamente, fazermos esta peça se tornou uma urgência?Porque As Criadas nos revelam a sua incapacidade, a sua impossibilidade de por termo ao jugo da Senhora. E em última análise, a impossibilidade de assumirem o seu destino de Seres Livres. Porque a sua incapacidade é a nossa. À sua volta erguem-se paredes intransponíveis e sentem-se sufocar. Fracassam nos seus intentos e remetem-nos para o nosso próprio fracasso. Ensaiam a revolta, mas são só palavras. Falam, falam, falam até ficarem vazias. E apercebem-se da sua imensa solidão. E sentem ódio, raiva e rancor até mais não. Até mais Nada.

Porque a Senhora, símbolo de uma classe social, de um sistema, de uma civilização; a Senhora, símbolo de uma ordem, modelo de comportamentos, dos mais altos padrões de uma Moral; a Senhora, mesmo grotesca, decadente, falsa, egoísta e sádica, exerce ainda o seu poder, e de forma cada vez sofisticada, sob a aparência da generosidade ou da solidariedade, impossibilitando-nos, quero dizer, impossibilitando-as de enxergar as alternativas.

Esta peça apresenta-se-nos como uma alegoria. Estamos no reino da metáfora e do símbolo. Foi tudo isto que tentámos transpor para o palco. Nesta casa. Neste país. Sob o signo da turbulência. Do desespero. Da inquietação. Através da combinação de um mínimo de elementos que aludissem a uma estética ligada ao excesso e à proliferação. Símbolos de uma época marcada por contrastes violentos, oscilando entre o avanço técnico-científico e a barbárie.

Aproximamo-nos contudo, de um teatro poético, tentando tirar o máximo partido do valor lírico da palavra e da força vital do jogo cénico. Por agora, é no palco que buscamos a salvação. No palco, esse “…lugar vizinho da morte, onde todas as liberdades são possíveis.”, como escrevia, numa carta Genet a Roger Blin. Amanhã não sabemos.

Paula Pedregal

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Autor: Jean Genet; Encenação: Paula Pedregal; Dramaturgia: Paula Pedregal e Sofia Borges; Interpretação: Alexandra Diogo, Nuno Machado e Sofia Borges; Interpretação Musical: Nuno Machado; Marioneta  Miguel Gorjão Clara; Apoio à Manipulação da Marioneta: Nuno Correia Pinto; Desenho de Luz e Sonoplastia: André Rabaça; Costureira: Adélia Canelas; Fotografia   e Imagem  Gráfica: André Rabaça; Direcção Técnica: André Rabaça; Técnico Auxiliar: Luís Quaresma; Direcção de Produção: Nuno Correia Pinto; Assistente de Produção: Cláudia Alves; Secretária de Direcção e Produção: Cristina Costa; Direcção Artística Companhia de Teatro de Sintra: João de Mello Alvim