Esta primeira edição do “Periferias, surge num tempo em que a voracidade do sistema financeiro, decrépito e autofágico, continua a destruir direitos essenciais do ser humano numa espiral de demência (aparentemente) incontrolável. Na área cultural, as fragilidades estruturais, são ainda mais evidentes, e a função dos nomeados oficialmente, parece ser a de presidir a comissões liquidatárias que, antes de (tentarem) liquidar, exigem às vítimas uma saga burocrática, devidamente certificada. Anos e anos de trabalho dos criadores culturais no terreno, substituindo o Estado naquilo que devia ser uma das suas funções matriciais, o acesso dos cidadãos aos bens culturais, são olhados com sobranceria e contabilizados como desperdício de dinheiro, incluído naquele que cava défices. Em vez de uma estratégia para o país, alicerçada nas suas potencialidades – e a cultura é uma delas – despacham-se medidas avulsas que são engolidas pela voragem dos horizontes imediatos.
Esta primeira edição do “Periferias”, poderá parecer desajustada neste quadro sombrio, diante deste horizonte medonho e desapossado de esperança, com que diária e ardilosamente nos querem massacrar. Ora, se este festival nasceu naturalmente da experiência artística-organizativa acumulada ao longo de 25 anos de laboração contínua, é outra experiência igualmente acumulada, a social, que torna este “Periferias” num desafio inadiável de resistência (*), alcandorado na convicção de que a criação artística é um bem de primeira necessidade, e a sua fruição um direito de cidadania.
João de Mello Alvim, Director Artístico
Pelo Teatro Art’Imagem (Porto)
Em todo o palco terra barrenta. Vem, do horizonte, um homem negro. Os pés mergulham na lama. O homem coxeia da perna direita. O homem vem, devagar. Chega. E diz: Toma o meu corpo senhor do fogo! Vem e devasta esta terra estrangeira! Este homem negro é um escravo trazido à força de África para uma terra de que nunca ouvira falar. Ele nos dirá, num português ainda mal apreendido, mas de imagens poderosas e numa linguagem poética singular, como um dia chegaram à sua aldeia os homens brancos “feios, com cabeças de metal e pele de ferro, por sobre a pele cor de leite velho estragado”.
TEXTO: PEDRO EIRAS; ENCENAÇÃO: JOSÉ LEITÃO; INTERPRETAÇÃO: FLÁVIO HAMILTON; DESENHO DE LUZ: LEUNAM ORDEP; ESPAÇO CÉNICO: JOSÉ LEITÃO E JOSÉ LOPES; PRODUÇÃO: JORGE MENDO COM CARINA MOUTINHO; PRODUÇÃO EXECUTIVA: BRUNO MAIA, EMANUEL BRAGA, INÁCIO BARROSO, SOFIAL LEAL; FOTOGRAFIA : CARINA MOUTINHO; DESIGN: RUI DUARTE
Pelo Grupo de Teatro Lareira (Maputo, Moçambique)
Calvino (cego) e Tendeu (de braços amputados) são dois mendigos, que têm como sua casa um poste e vivem naquele local com an esperança de que um dia volte para ali, o milionário Drumond Galaska, o qual dizem ter lhes prometido tirar da pobreza. Enquanto esperam o Drumond Galaska levam a “Cavaqueira do Poste” cujo tema é a grande questão: a crise financeira mundial é causada pela miséria e a má distribuição dos recursos? Ou então, será o facto de nascermos maningues enquanto não temos nem sequer migalhas para o estomago?
TEXTO: SÉRGIO MABOMBO; ENCENAÇÃO: ELLIOT ALEX; ELENCO: SÉRGIO MABOMBO E DIAZ SANTANA; PRODUÇÃO: GRUPO DE TEATRO LAREIRA; PRODUÇÃO EXECUTIVA: LEONEL MENDES E CÉLIA RUTH; LUZ, SOM E CENOGRAFIA: NELSON; VÍDEO E IMAGEM: NELSON MONDLANE; FOTO E GRAPHIC DESIGNER: ELLIOT ALEX; APOIOS: ROSA LANGA, CENTRO CULTURAL FRANCO MOÇAMBICANO-CCFM E FÉLIX TINGA (AQUELE ABRAÇO); AGRADECIMENTOS: CENTRO CULTURAL FRANCO MOÇAMBICANO
Pelo Teatro Por Que Não? (Sta Maria, Brasil)
A amarga realidade brasileira de forma explícita diante do público, que se faz cúmplice da violência de uma parcela da sociedade, que vive em situações extremas. Prostitutas submetidas a opressões, humilhações e torturas de um inescrupuloso homossexual, dono do prostíbulo, e seu violento serviçal. O valor da vida reduzido a menos que um ‘abajur lilás’. Escrita há mais de 40 anos, O Abajur Lilás, de Plínio Marcos, é impressionantemente atual, e o público que assiste passivo, é um retrato fiel da sociedade.
TEXTO: LIVREMENTE INSPIRADO NO TEXTO HOMÔNIMO DE PLINIO MARCOS; DIRECÇÃO: FELIPE MARTINEZ; ELENCO: ALINE RIBEIRO, CAUÃ KUBASKI, DEIVID MACHADO GOMES, JULIET CASTALDELLO E LUIZA DE ROSSI; ILUMINAÇÃO E ASSISTÊNCIA DE DIRECÇÃO: RAFAELA COSTA; SONOPLASTIA: ANDRÉ GALARÇA; CENOGRAFIA: MARCOS PAIANI E TEATRO POR QUE NÃO?; FIGURINOS: CÂNDICE LORENZONI E TEATRO POR QUE NÃO?; MAQUIAGEM: TEATRO POR QUE NÃO?
Pelo Ninho de Víboras (Almada)
“Tudo e Nadas” resultou de um processo de criação conjunto com a Maria Radich e a Catarina Ascenção que se desdobrou em diversas apresentações prévias e de excertos (“por aqui e por ali” no Porto ou “Zona de Rebentação” em Aveiro, Lisboa e Torres Vedras) e nas próprias apresentações públicas da peça em Almada e na Moita. Na altura questionava-me sobre a construção identitária de uma obra artística e estabelecia a relação com própria construção identitária do artista que lhe dá vida. O verdadeiro artista… Hoje sei que “Tudo e Nadas” nunca chegou a ter uma identidade verdadeira, mas acompanhou-me naquele momento. Razão suficiente para juntar os pedaços de tudo e dos nadas do passado, acrescentar o manifesto do presente e ensaiar uma nova obra. Por tudo isto, “Tudo e Nadas. E agora nada.” é, sem sombra de dúvida, uma viagem ao percurso de uma mulher artista.
CONCEPÇÃO E DIRECÇÃO: MARIA JOÃO GARCIA; INTERPRETAÇÃO: MARIA RADICH; TEXTO: NUNO BARREIRO; PRODUÇÃO: NINHO DE VIBORAS / MJG; APOIO: CÂMARA MUNICIPAL DE ALMADA; COLABORAÇÕES E AGRADECIMENTOS: ANTÓNIO COELHO, CARLOS GONÇALVES, CATARINA ASCENÇÃO, CLAUDIA DIAS, COMPANHIA CLARA ANDERMATT, CÉLIA RAMOS, DAVID, FORUM DANÇA, INÊS NOGUEIRA, JOSÉ PELICANO, MIGUEL FONSECA, PEDRO MACHADO, PETER MICHAEL DIETZ, SANDRA RAMOS, SUSANA MENDES SILVA E TEATRO EXTREMO
Pelo Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do instituto Camões (Mindelo, Cabo-Verde)
Rios e Solano são dois atores cómicos ambulantes, perdidos no tempo e no espaço, e que se reencontram no aqui e agora da representação teatral. O texto é uma representação fiel de todas as dúvidas, inquietações que atormentam um actor no palco diante do publico, e se ele entra nesse universo sem um preparo adequado automaticamente ele torna-se um alvo fácil para erros.
PEÇA ORIGINAL DE JOSÉ SANCHIS SINISTIERRA; DIRECÇÃO ARTÍSTICA: JOÃO BRANCO; DIRECÇÃO PLÁSTICA: BENTO OLIVEIRA; DIRECÇÃO MUSICAL: MICK LIMA; DIRECÇÃO DE MOVIMENTO: JANAINA ALVES; INTERPRETAÇÃO: JOÃO BRANCO, MANUEL ESTEVÃO; DESENHO DE LUZES: JOÃO BRANCO; ASSISTENTE DE ENCENAÇÃO: ELÍSIO LEITE
Pelo Teatro Extremo (Almada)
Em 1949, na noite do seu septuagésimo aniversário, Einstein prepara-se para ir a um jantar. Conversa com o público a quem revela a história da sua vida e explica as suas teorias sobre o universo, com humor e simplicidade. Ao longo da peça, fala-nos da “Teoria da Relatividade” mas, também, da sua origem judaica, da sua infância e Em 1949, na noite do seu septuagésimo aniversário, Einstein prepara-se para ir a um jantar. Conversa com o público a quem revela a história da sua vida e explica as suas teorias sobre o universo, com humor e simplicidade. Ao longo da peça, fala-nos da “Teoria da Relatividade” mas, também, da sua origem judaica, da sua infância e juventude, do seu relacionamento familiar e do domínio nazi na Alemanha de 1930.
AUTOR: GABRIEL EMANUEL (GORDON WISEMAN); VERSÃO PORTUGUESA: JOSÉ HENRIQUE NETO; DRAMATURGIA E ENCENAÇÃO: SYLVIO ZILBER; ASSISTÊNCIA DE ENCENAÇÃO: ISABEL LEITÃO; INTERPRETAÇÃO: FERNANDO JORGE LOPES; CENOGRAFIA E ADEREÇOS: ARMINDA MOISÉS COELHO; ASSISTENTE DE CENOGRAFIA: DAVID OLIVEIRA; FIGURINOS: ALICE ROLO; CONSULTOR MUSICAL: ANTÓNIO VITORINO ROCHA; DESENHO DE LUZ: CELESTINO VERDADES; DESENHO DE SOM: SÉRGIO MOREIRA; FOTOGRAFIA: SANDRA RAMOS
Pelas Marionetas da Feira (Sta Maria da Feira)
Neste espectáculo de teatro de marionetas podemos apreciar diferentes técnicas de manipulação. As marionetas (construídas com papel e pano)são o resultado de 12 anos de pesquisa e aprendizagem, que numa mescla com alguma modernidade e simplicidade, resultaram neste espectáculo actual de som e movimento. Ao espectador é apenas dado o título de cada acto, que somado à ausência de texto, serve de ponto de partida para experiencias imaginativas de cada um. Podemos ver, entre outros actos, um fantoche que constrói outro e encontra nele a sua cara-metade. Um jogo entre criador, marioneta e escultura.Noutro, nunca sabendo o porquê da existência do sofrimento, uma bailarina dança com gestos de força e confronto, nunca se deixando abater; derrotando triunfantemente toda uma carga negativa que a rodeia.
ORIGINAL DE: RUI SOUSA (MARIONETAS DA FEIRA); CONSTRUÇÃO DAS MARIONETAS: RUI SOUSA; ENCENAÇÃO: ALBERTO CASTELO, TELMA PEDROSO, RUI SOUSA; ESTRUTURAS CÉNICAS: LINO SOUSA, RUI SOUSA
Pela Ajidanha (Idanha-a-Nova)
Um actor desmonta e reflecte, pouco a pouco, a realidade que é capaz de aperceber e reproduzir, recorrendo-se de elementos aparentemente dissonantes que recupera da tradição do Conto Popular e das Fábulas. Alternando entre a visão do mundo actual que o rodeia e a sua própria vida, entre as experiências que concebeu através dos outros e as que viveu realmente, e esbatendo a fronteira entre ficção e realidade, ele põe a nu, actualizando, o sentido de palavras e imagens que, retiradas do universo fantástico de histórias intemporais, legadas pela tradição, adquirem uma pujante força e verdade.
DRAMATURGIA, ENCENAÇÃO E CENOGRAFIA: NUNO NUNES; DESENHO DE LUZ E SOM: BRUNO ESTEVES; DESENHO DE VIDEO: BRUNO ESTEVES, NUNO LEÃO E NUNO NUNES; INTERPRETAÇÃO: NUNO LEÃO; PRODUÇÃO: RUI PINHEIRO; PESQUISA E RECOLHA DE MATERIAIS (GRÁFICOS, VIDEO, SOM E TEXTOS): BRUNO ESTEVES, PATRICIA MARAVILHA, NUNO LEÃO E NUNO NUNES
Pelo Al-Mashra (Tavira)
Porque razão um estúpido é mais perigoso que um bandido?…
A nossa vida é pontuada por acontecimentos em que incorremos em perdas de dinheiro, tempo, energia, apetite, tranquilidade e bom humor por causa das improváveis acções de alguma absurda criatura que, nos momentos mais impensáveis e inconvenientes, nos provoca prejuízos, frustrações e dificuldades, sem ter absolutamente nada a ganhar com o que fez. Ninguém sabe, percebe ou pode explicar porque é que essa absurda criatura faz o que faz. De facto, não há explicação, ou melhor, há uma única explicação: a pessoa em questão é estúpida.
TEXTO: A PARTIR DO ENSAIO LE LEGGI FONDAMENTALI DELAA STUPIDITÀ UMANA DE CARLO MARIA CIPOLLA; DRAMATURGIA E ENCENAÇÃO: COLECTIVA; INTÉRPRETES: BRUNO MARTINS E PEDRO RAMOS; LUZ, SOM E OPERAÇÃO TÉCNICA: VALTER ALVES; CENÁRIO E ADEREÇOS: COLETIVO; ILUSTRAÇÃO: CHANDRANI FERNANDES; VÍDEO: VASCO LOBO; HAIRSTAYLING: VICTOR PICARDO; PRODUÇÃO: VÂNIA GIL
Construção de uma marioneta de manipulação directa, utilizando apenas fita-cola crepe, jornais usados e trapos coloridos. Estes materiais evitam sujidade e as habituais borratadas de oficinas plásticas, proporcionando um ateliê sempre limpo. O resultado final é excelente a nível plástico, que aliado à habilidade de manipulação funde-se em personagens mágicos. A subtileza dos movimentos destes bonecos resulta numa magia intensa de gestos. Esta técnica é também usada em marioneta-terapia. Nunca foi tão fácil construir uma marioneta!
Construção de uma marioneta de manipulação directa, utilizando apenas fita-cola crepe, jornais usados e trapos coloridos. Estes materiais evitam sujidade e as habituais borratadas de oficinas plásticas, proporcionando um ateliê sempre limpo. O resultado final é excelente a nível plástico, que aliado à habilidade de manipulação funde-se em personagens mágicos. A subtileza dos movimentos destes bonecos resulta numa magia intensa de gestos. Esta técnica é também usada em marioneta-terapia. Nunca foi tão fácil construir uma marioneta!
Formador: Rui Sousa
Dia 07 I 22h l Restaurante Culto da Tasca | “post scriptum” ao vivo
Dia 07 I 20h l Restaurante Sopa d’Avó | “jantar brainstorming”
Dia 07 I 22h l Restaurante Sopa d’Avó | “espaços em branco” – leitura encenada
Dia 07 I 21h l Casa de Teatro de Sintra | exercício final do CIT
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