O Teatro é cenografia, guarda-roupa, luz…é certo. Mas não podemos imaginar o teatro sem actores. Porque o teatro fala do ser humano, da vida, da nossa vida. Podemos pensar: o que tem em comum comigo um pugilista reformado cujos bons tempos já passaram? O que tem em comum comigo o seu treinador e agora cuidador que o acompanha e que com ele sofre ? E Rosa, essa amiga especial que os consola a ambos nos maus momentos, o que tem ela em comum comigo?
Neste triângulo está contido o mundo: a alegria e a dor, o amor e o ódio, a solidariedade e o interesse, a vida e a morte. Isto sim, é a grandiosidade do teatro e dos grandes autores, que são capazes de sintetizar o mundo numas quantas páginas. A vida numas quantas vidas e transcender a aparência para chegar à essência.Como é possível que Dagomar, Amilcar e Rosa que aparentemente têm tão pouco em comum connosco, falem da nossa vida? E no entanto, assim é.
Javier Yague
Dez anos depois, o percurso da Companhia de Teatro de Sintra/Chão de Oliva é sinalizado pela diversificação das propostas, tanto ao nível da temática como das linguagens teatrais. As nossa raízes estão na formação, nascemos como um colectivo em aprendizagem, pela aprendizagem e pela pesquisa queremos seguir: não acreditamos no saber espontâneo e consideramos o nosso percurso ainda muito curto para escolhermos em definitivo “uma linha” que não seja a da insatisfação e da honestidade dos métodos criativos.
Com este “Câmara lenta” de Eduardo Pavlovsky, nome grande do teatro argentino e da dramaturgia mundial, juntamos o de Javier G. Yague nome afirmado na nova geração do teatro espanhol. A um texto que nos fala da permanente luta e afirmação do corpo e da memória contra o tempo, juntamos uma visão renovadora das soluções cénicas.
Continuamos assim, dez anos depois, a procurar um teatro sem pretensões “de reprodução da realidade” mas um teatro que nasça da ligação à realidade em que vivemos; um teatro que incorpore tradições ao nível dos conteúdos e das formas, que se oriente pela originalidade no presente mas que se preocupe com o futuro na busca de novas formulações e conteúdos dramáticos; um teatro de apelo à sensibilidade que nos ajude a olhar o mundo de outra maneira. Por fim, continuamos à procura de um teatro onde palavra, pensamento e memória se conjuguem com ouvir, falar e reflectir.
João de Mello Alvim
Autor: Eduardo Pavlovsky; Tradução: Graça Afonso; Encenação: Javier Yague; Assistência de Encenação: Maria João Fontaínhas; Interpretação: Maria João Fontaínhas, Nuno Correia Pinto e Rogério Jacques; Espaço Cénico: Companhia de Teatro de Sintra; Figurinos e Adereços: Companhia de Teatro de Sintra; Desenho de Luz: Javier Yague e Carlos Arroja; Imagem Gráfica: Pedro Aguilar e Nuno Correia Pinto; Fotografia: Miguel Velez; Sonoplastia e Operador de Luz e Som: Carlos Arroja; Contra-Regra e Apoio Geral: Tiago Matias; Montagem: Carlos Arroja e Tiago Matias; Serralharia: Jorge Coelho; Treinador de Pugilismo: Vitor Carvalho; Direcção de Produção: Maria João Fontaínhas; Produção Executiva: Penélope Melo
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