Uma viagem ao universo ficcional e poético, misterioso e vitalista de Tennessee Williams. Partindo de três peças em um acto deste incontornável dramaturgo norte-americano, revisitam-se as paisagens afectivas e os grandes temas recorrentes na sua obra: a procura do Outro, o sonho, a revolta e a consciência de algo mais belo e vasto do que a realidade humana. Numa estética de realismo poético, dois actores dão corpo a uma alegre e trágica galeria de lunáticos, noctívagos, boémios, amantes e sonhadores. São estes os filhos da lua que nos revelam a sua inquietação, a sua solidão, a sua humana fragilidade e os seus sonhos de liberdade.
A encenação deste espetáculo começou com um convite — por parte do João de Mello Alvim, director artístico do Chão de Oliva— para que eu encenasse na Casa de Teatro de Sintra um texto de Tennessee Williams. Os meus olhos brilharam de emoção e expectativa, porque foi Tennessee quem me trouxe para o teatro, há vários anos, numa terra longínqua e fria (Toronto) em que fui obrigada a ler (bem-aventurado programa liceal) uma das suas peças mais famosas, The Glass Menagerie. Tinha então catorze anos; e embora já tivesse experimentado fazer teatro, fiquei com a certeza, ao ler Tennessee, de que era esta a minha arte-paixão.
O processo de ensaios deste guião (cuja estrutura explicarei mais adiante, noutro texto deste programa), foi apaixonante e de incessante descoberta. Logo de início lá estava o cavalinho de pau que o António Sofia, assistente de encenação, nos trouxe para o centro do palco. Mais tarde chegariam os felinos, noctívagos e lunares. Seguiram-se os ensaios de leitura e de dramaturgia a quatro, em que falámos dos temas recorrentes que atravessam os textos: da (in)comunicação humana; da omnipresença da morte; do inimigo relógio, medidor do tempo; do impacto atrofiante da pragmática “maturidade” sobre a imaginação e liberdade da infância e juventude; dos sistemas económicos que violentam e corrompem os indivíduos; da água que percorre o espetáculo sob a forma de chuva, de gelo, de rio “descomunal azul e lindo que corre sempre para Norte”.
Este espetáculo é lunar; e, por uma coincidência astral, estamos a ensaiá-lo e iremos estreá-lo em Sintra, terra mágica da lua. Aqui iremos falar-vos dos “filhos da lua”: do desassossego e entusiasmo dos lunáticos, noctívagos, desadaptados, boémios e amantes; da inquietude e exaltação dos sonhadores, fazedores e mensageiros.
Graça P. Corrêa
Autor: Tennessee Williams; Tradução, Adaptação, Espaço Cénico e Encenação: Graça P. Corrêa; Interpretação: Alexandra Diogo e Nuno Machado; Assistente de Encenação: António Sofia; Desenho de Luz e Sonoplastia: André Rabaça; Escolha de Figurinos e Músicas: Graça P. Corrêa; Voz off polícia: António Sofia; Vozes off crianças: Madalena Machado e José Santos; Apoio à composição da canção “Petúnias”: Carlos Marques; Apoio à luta: Mestre Eugénio Roque; Apoio à realização de adereços: Nita Pires; Participação Especial: Gato Rá; Direcção de Produção: Nuno Correia Pinto; Assistente de Produção: Cláudia Alves; Secretariado de Direcção e Produção: Cristina Costa; Direcção Técnica e operação de luz e Som: André Rabaça; Fotografia e Imagem Gráfica: André Rabaça; Carpintaria e Assistência Geral: Luiz Quaresma; Frente de Sala e Contra Regra: Roberto Mendes; Bilheteira: Paula Malhado
Agradecimentos: Pedro Barão, In-Impetus, Carlos Marques, Nita Pires, Al-Amar, Vichtor Börrén Dias, Miguel Mendes e Palmira Venâncio
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