“Nevoeiro” de Eugene O’Neill é uma peça num só acto de 1914 e faz parte de uma série de peças do autor que, directa ou indirectamente, se inspiram no naufrágio do Titanic (1912). A situação dos náufragos sobreviventes num bote salva-vidas, à deriva no mar alto, é especialmente apta para criar situações dilemáticas, do ponto de vista ético e humano, e suficientemente coesa, do ponto de vista da concentração do espaço, do tempo e da acção, para suscitar um desenvolvimento dramático clássico. Por outro lado, é expectável que a situação de sobrevivência, acompanhada dos habituais desesperos, decisões in extremis, traições, arrependimentos, e surpresas, funcione como uma poderosa alegoria de situações quotidianas que nos são próximas.
Esta peça, contudo, oferece-nos muito mais do que uma situação limite de sobrevivência a começar pelos seus dois caracteres principais, o Homem de Negócios e o Poeta, e sobretudo, a meu ver, pela alegoria que decorre da consideração do título. No teatro, como nesta peça e, como Platão facilmente aceitaria, na vida, encontramo-nos muitas vezes no nevoeiro e na espera angustiada que o nevoeiro se levante, nunca sendo certo que aquilo que finalmente vemos com nitidez, se é que vemos alguma coisa, é aquilo que realmente desejamos ver e está lá, aquilo que julgamos ver e não está lá ou outra coisa, entre as duas primeiras, que é apenas mais nevoeiro: uma nitidez que nos cega ou o lamento dos mortos. É sobretudo esta última dimensão do texto de O’Neill que o Teatro da Garagem e a Companhia deTeatro de Sintra/Chão de Oliva adoptam, na encenação de Carlos J. Pessoa.
Encenação e concepção plástica: Carlos J. Pessoa; Dramaturgia: David Antunes; Direcção Artística: João Mello Alvim (Companhia Teatro Sintra) e Carlos J. Pessoa (Teatro da Garagem); Interpretação: Alexandra Diogo, Ana Palma, Fernando Nobre, Maria João Vicente, Miguel Mendes, Nuno Correia Pinto, Nuno Nolasco, Nuno Pinheiro e Rute Franco; Cenários e Figurinos: Sérgio Loureiro; Música (composição e interpretação): Daniel Cervantes; Desenho de Luz: Miguel Cruz; Operação de Luz: Miguel Cruz e André Rabaça; Vídeo: Teresa Azevedo Gomes; Imagem Gráfica: Sérgio Loureiro e André Rabaça; Direcção Técnica: André Rabaça (Companhia de Teatro de Sintra) e Miguel Cruz (Teatro da Garagem); Montagem: André Rabaça e Pedro Tomé; Direcção de Produção: Maria João Vicente (Teatro da Garagem), Nuno Correia Pinto (Companhia Teatro de Sintra); Produção: João Belo e Teresa Azevedo Gomes (Teatro da Garagem) e Nuno Machado (Companhia de Teatro de Sintra); Secretariado: Cristina Costa
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