OS SAPATOS FICAM À PORTA

AUTOR: Paulo Condessa
ENCENAÇÃO: João de Mello Alvim
ESTREIA: 29 Maio 2010

Texto vencedor em 2008 do
Prémio Nacional de Artes Performativas Maria João Fontaínhas

SINOPSE

Trata-se de um “Monólogo a 3 vozes”, por onde circula a relação de três gerações ligadas pelo mesmo sangue: o avô, o pai e o filho. Uma relação tecida, como uma teia, por metáforas, pequenas e grandes estranhezas, autocontemplações e autoflagelações, e também alguns ajustes com o passado. Essencialmente o escavar da memória dos laços familiares, e a reflexão, ora amarga, ora irónica, do que ficou, do que marca quando se põe “o coração à mostra”.

SOBRE O ESPETÁCULO

Podia ser, mas não foi, e assim foi melhor. Podia esta montagem e resultado final, nada ter a ver com a Maria (João Fontaínhas), a não ser o facto de ter sido o projeto vencedor do Prémio de Artes Performativas com o seu nome; mas não foi assim e tenho a certeza que ela muito se teria divertido com mais este parto.
Se o texto que serviu de ponto de partida para o espetáculo nos remete para memórias, para o escavar de memórias, o processo de criação levou-me às memórias dos trabalhos do CIDRA, primeiro grupo de teatro (escolar) onde a Maria começou a sua descoberta do teatro.
Se concebo toda a montagem teatral como um processamento de descobertas para as quais se procura um nexo – e não há o nexo, há nexos que escolhemos, conscientes que outros podiam ter sido os eleitos -, este texto potenciou essas descobertas. As palavras que convocam as memórias de uma relação triangular, filho/pai/avô, que ligam os pensamentos aos ossos, levaram-nos aos objetos; não no sentido do ornamento, mas às suas pré-existências, ao(s) seu(s) rasto(s) – aos seus “ossos” …-, que, na maioria das vezes passam pelas memórias de outros espetáculos da Companhia. Deste modo, deixam de ser “uma cadeira”, para serem a cadeira com o percurso naquele(s) espetáculo(s).
O mesmo pedi aos atores. Que trouxessem para o palco, e para a interpretação, as suas experiências. Não os queria limpos, mas contaminados pela(s) sua(s) história(s) no palco. E essas experiências podiam, inclusive, ser a deslocação de um personagem já interpretado e, no caso do Manuel Vicente (ator amador com quem gosto de trabalhar pela sua dedicação e despojamento), que fosse ele próprio.
Assim, “de pés nus”, procurámos “o lombo da memória” que estava “entalado debaixo do osso”, e que nos transportou “o coração mais longe. Até chegarmos dentro do coração dos peixes, rochas, plantas”, mesmo com “problemas psicológicos no joelho” …

João de Mello Alvim

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Autor: Paulo Condessa; Dramaturgia: Manuel Sanches; Encenação: João de Mello Alvim; Interpretação: Nuno Machado, Pedro Cardoso, Luís Santiago e Manuel Vicente; Assistente do Encenador: João Mais; Direção de Produção: Nuno Correia Pinto; Cenografia: A partir de uma ideia de JMA; Figurinos: Graça Rodrigues; Mestra Costureira: Maria Augusta Rodrigues; Direção Técnica e Desenho de Luz: André Rabaça; Técnico Auxiliar: Pedro Tomé; Design Gráfico: André Rabaça; Assistente Produção: Nuno Machado e João Mais; Secretária de Direção e Produção: Cristina Costa