SE EU NÃO MORRESSE, NUNCA!

AUTOR: A PARTIR DE POEMAS DE CESÁRIO VERDE
ENCENAÇÃO: JOÃO DE MELLO ALVIM
ESTREIA: 20 DE OUTUBRO

SOBRE O ESPECTÁCULO

Um dos seus heterónimos de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, chamou a Cesário, Mestre:”E que misterioso o fundo unânime das ruas/Das ruas ao cair da noite, ó Cesário Verde, ó Mestre/ó do “Sentimento de um Ocidental”(..)

“Poesia da objectividade”,”originalidade” e “novidade”, são algumas das expressões que Fernando Pessoa utiliza, escrevendo a dado passo, num estudo inacabado: “Em vez de retórica oca e de concomitante sentimentalismo difuso, da carência completa de tudo quanto fosse a visão artística do mundo exterior, da longa estrofe retumbante – o verso sóbrio e severo, o sentimentalismo reprimido, a visão nítida (…) das cousas, o epíteto revelador (…)[1].

Com Cesário Verde acontece uma renovação “de toda a imagética vinda do romantismo à luz de um insistente desejo de transparência só aparentemente realista”, segundo Fernando Pinto do Amaral[2], que acrescenta:”a escrita de Cesário Verde não oculta todavia, as faces mais sombrias do seu mistério, do qual se manteve ciente até ao fim – e por isso serviu para abrir caminho aos modernistas”.

Não se procura, neste espectáculo, cronologias, biografias ou análise detalhada da obra. Procura-se sim, na sequência dos poemas e extractos de cartas, um caminho na esteira de Cesário: clareza da formulação retirada da observação das coisas reais na busca, no entanto, “o espírito secreto” – “Ah! Ninguém entender que ao meu olhar/Tudo tem certo espírito secreto”[3] . Procura-se igualmente dar a conhecer e estimular o conhecimento – e porque não a paixão? – de um autor “condenado, ele, um poeta, a ser um guarda-livros”, “absurdo que pesou sobre a sua existência”[4], mas que no dizer de Fernando Pessoa, foi um dos grandes poetas do século XIX, juntamente com Antero de Quental e Camilo Pessanha: Qualquer dos três, porque qualquer é um homem de génio, é grande não só adentro de Portugal, mas em absoluto”[1].

João de Mello Alvim

[1]“ Estudo crítico”, Fragmentos, in “Cânticos do Realismo e outros Poemas”, edição Teresa Sobral Cunha, Relógio D´Água.
[2] “Poesia de Cesário Verde”, Texto Editora.
[3] In “Nós”, Cesário Verde.
[4] “Cartas de Torna-Viagem”, Eugénio de Castro, primeiro volume, Lisboa, 1926.

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Encenação: João de Mello Alvim; Recolha de Textos: Manuel Sanches; Interpretação: Cristina Basílio, João Mais e Pedro Cardoso; Assistente de encenação: Marco Martin; Cenografia: MANTOS; Figurinos: Miguel Sá Fernandes; Mestre Costureira: Alda Cabrita; Fotografia e Imagem Gráfica: André Rabaça; Tratamento Video: Jaime Gonçalves; Desenho de Luz: André Rabaça; Direcção de Produção: Maria João Fontaínhas; Produção Executiva: Catarina Nevesdias; Secretariado de Produção: Cláudia Gomes; Operação de Luz e Som: André Rabaça; Direcção Técnica: Nuno Correia Pinto; Montagem: Nuno Correia Pinto, André Rabaça e Pedro Tomé