CONVERSAS COMEÇADAS

O princípio não foi o verbo na construção deste trabalho. Não se partiu de uma peça para o palco, antes, das improvisações física e verbais realizadas no palco, partiu-se para a construção de pequenas histórias, sem qualquer preocupação que ligassem entre si.

Mais tarde, escolhidas as histórias, as conversas, desenvolvidas as personagens, dando-lhe espessura dramática, e escritos os diálogos, procurou-se a articulação, o nexo, entre as várias conversas, e o milagre aconteceu. Nasceu a base desteespectáculo, “Conversas começadas”.

Nas linhas gerais que guiaram a encenação, partiu-se dos meios técnicos existentes e não dos ideais. Em atenção foi tida a (praticamente) inexperiência dos jovens actores, assim como: o prazer do jogo, do faz-de-conta, e ainda a potencialização do espaço/palco, praticamente vazio de elementos cenográficos – que tantas vezes servem para esconder outras fragilidades, ou perseguem a vã ilusão de querer tornar o teatro como um lugar de imitação “do real”, quando o teatro, como qualquer disciplina artística, não tem de imitar, não tem de copiar, tem de observar e absorver para criar uma realidade própria e ser catalisador de interrogações e intervenções no nosso viver do dia-a-dia. Procurou-se um teatro onde se privilegiasse mais o pressentido do que o visto, mais a emoção, a sensibilidade e o pensar, e menos a “muleta pedagógica”, ou “isto quer dizer”, como é tradição nas telenovelas. Do resultado final, ajuizará cada espectador.

João de Mello Alvim